Conexão Brasil x EUA #03
- Erich Mesquita
- 1 de fev. de 2016
- 3 min de leitura

“Let it snow, let it snow, let it snow...”, mas não muito, senão não dá pra treinar!
Bom, dessa vez falarei sobre como é o inverno por aqui e como estamos passando por ele agora, a ocasião não poderia ser mais propicia.
Mars Hill fica nas montanhas do oeste da Carolina do Norte, quase na fronteira com o Tennessee (por falar nisso, metade do pedal de hoje foi no Tennessee). Em questão de norte-sul, estamos no meio dos EUA e isso quer dizer, obviamente, o seguinte: fica bem mais frio que o sul mas não tão frio quanto o norte. Melhor dizendo, não fica tão frio por tanto tempo quanto no norte, mas tem dia que fica absurdamente frio. O inverno pra nós ciclistas começa quando os pedais tem que ser feitos a menos de 10 graus e só termina quando a temperatura durante o dia passa disso. Isso normalmente acontece entre Novembro e Março, o que nos dá um inverno bem longo. A notícia boa é que sempre tem aqueles dias atípicos no meio que, quando acontecem, nos “forçam” a fazer 5h de pedal (como nesse fim de semana) pra compensar os muitos dias encurtados ou de treino no rolo.

Nessa época, pra mim, o foco é a temporada de ciclocross e a preparação para a próxima temporada de estrada e eu, particularmente, uso o ciclocross como diversão. Nessa época de tempo terrível para pedalar, você precisa ter um nível de motivação muito alto pra “fazer o que tem que ser feito”, seja na chuva, ou em temperaturas negativas, ou os dois, ou os dois e um pouco de neve, ou os dois, um pouco de neve, cansaço e de quebra um cachorro correndo atrás de você na subida... Enfim, se não houver uma mentalidade totalmente focada, você acaba “arranjando” dever de casa pra fazer e se enganar que não deu tempo pra treinar. A temporada de ciclocross me mantém com vontade de andar bem durante o inverno, o que me ajuda a manter a forma pra começar a preparação pra a temporada de estrada, meu foco principal. Ainda sou bem "ruinzinho" no ciclocross, sem chances de ganhar corridas na categoria universitária A; já que profissionais de equipes como CalGiant, Hincapie Racing e Cannondale-Cyclocrossworld competem por suas universidades nessas corridas, e ainda não tenho a técnica absurda que alguns deles têm pro ciclocross. Mesmo assim, é muito divertido correr na grama/areia/lama/neve/trilhas/pedra e aprender habilidades que não aprenderia na estrada, mas que podem me ajudar nela também.

Durante a temporada de ciclocross (que acaba no Campeonato Nacional em Janeiro) meu foco nos treinos é a “base” para a temporada de estrada que começa no fim de Fevereiro, início de Março. Procuramos sempre treinar na rua o máximo possível nas mais terríveis condições em que possamos ter um certo nível de segurança. De vez em quando andamos nas estradas cheias de sal (colocado pra derreter a neve e o gelo) e mesmo assim tomando o maior cuidado com o “black ice” que fica naquelas partes onde o sol não bate e consiste em poças de água congeladas que, em contato com pneus de bicicleta, resultam, rápida e inevitavelmente, em queda. Uma queda nessa época pode te deixar uns 40 dias fora da bike e simplesmente afetar toda sua temporada, como aconteceu comigo ano passado fazendo mountain bike em Dezembro.
Andar a -3 graus celsius no plano já e muito frio, mas nas montanhas... Na subida você transpira e a roupa fica molhada, fazendo a descida do outro lado um experiência, ás vezes, inesquecível. O rosto doí, as mãos congeladas dentro das luvas de ski já nem funcionam, os óculos embaçam por causa do buff que cobre o nariz e a boca e você não sabe se os dedos do seus pés ainda estão conectados ou já quebraram como gelo dentro das meias de lã e cobertores de neoprene na sapatilha. E é claro que bem nesse dia maravilhoso você tem um treino de 4h pra fazer desviando do “black ice”.
Ao mesmo tempo que devemos ter extremo cuidado, esses treinos são necessários porque, além do físico e a habilidade, eles melhoram algo que não pode ser melhorado de outro jeito: a “raça”. Enquanto você está pensando em não sair porque esta frio, o cara que vai vencer o nacional em Maio sai e treina. Quando se pode fazer o treino no rolo ou as condições impossibilitam, aí tudo bem, mas se der, temos que sair e treinar na “raca”, pois sem ela o esporte e, particularmente o ciclismo, perde toda a sua beleza.
Até a próxima e “bora treinar que ninguém quer ser feio” (BRUTO DREWS, Brou; 2016)
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